Domingo, 15:00. Foi sob um céu
nublado e uma atmosfera eletrizante que dois dos maiores clubes de futebol
amador de Uruçuca se encontraram em uma final de campeonato municipal que há
vinte e quatro anos não se realizava: Corinthians x Comercial! Décadas de
tradição nos ombros de cada homem com uniformes auricelestes e alvinegros! Sem
dúvida alguma, os deuses do futebol, às vésperas da copa do mundo, voltaram
suas atenções para aqueles atletas que momentos antes da partida se encaravam, cada
qual em seu lado do campo de batalha.
Arquibancada lotada, de uma lado
a fanática torcida do Comercial do outro a apaixonada corintiana, após um
minuto de silêncio em respeito a morte do grande colorado Fernandão, o juiz
apita, a bola rola e a batalha começa. Muitos desavisados achavam que o
campeonato havia sido decidido na semifinal, inocentes! Em cinco minutos, já se
via uma disputa tática encarniçada no meio campo com o camisa 11 auriceleste Gian,
leve, habilidoso, o improviso em pessoa, dando enorme trabalho ao firme e
preciso alvinegro Guto, vice campeão da lendária seleção uruçuquense de 2000.
Diante de um jogo bem armado
taticamente de ambos os lados, o caminho para o gol só poderia vir do talento
individual e, na metade do primeiro tempo, o jovem talento conseguiu uma brecha
no jogo do experiente guerreiro corintiano, veloz, em diagonal, passando por
marcadores como se eles simplesmente não estivessem ali, mandou um torpedo de
canhota no ângulo direito do gol do ginásio, diante de um impotente arqueiro
corintiano que se esticava tentando evitar o inevitável! O urro vindo do lado
auriceleste era a certeza de que o Comercial abrirá o placar! 1 x 0, gol de
Gian!
Os corintianos, frios como os
soldados da antiga cidade grega que dão nome ao time, puseram a bola no meio e
recomeçaram o jogo, como se nada houvesse acontecido. Nervos de aço, cabeças de
gelo e muito, muito coração. Então os deuses do futebol começaram a brincar com
a paixão dos uruçuquences! O inverso e a mesma cena, Play, o habilidoso camisa
11 alvinegro parte em diagonal da direita do ataque, passadas largas, protege a
bola enquanto a carrega e dispara um míssil no ângulo do veterano Uilliam!
Indefensável. A torcida corintiana aos berros, reacende a esperança.
Começa o segundo tempo, o mesmo
equilíbrio, a mesma pegada, a mesma tensão. O jogo já começa a ganhar contornos
de peleja histórica, daquelas que os avôs contam para os netos. O Comercial
pressionava e Baggio, o hábil goleiro corintiano insistia em frustrá-los.
Vieram as substituições e Erlam Dias saiu do banco para fazer a diferença para
o Comercial: Costurou pelo lado esquerdo do ataque e cruzou na medida para Lei,
sempre Lei, empurrar para as redes e deixar a sua torcida em êxtase!
Novemente os corintianos puseram
a bola no meio, Gilvan, tenso no banco mexe no time e provoca um verdadeira
blitz sobre a defesa adversária, o Comercial por sua vez, com os velozes Pim e
Erlam Dias ameaçam seriamente em contra ataques mortíferos. Minutos finais,
quatro de acréscimo e o espírito de luta dos corintianos foi recompensado,
Marcone, o camisa 10 alvinegro, carrega a bola e, da entrada da área bate
preciso no cantinho. O relógio marcava quarenta e seis do segundo tempo, a
decisão seria nos pênaltis e os deuses do futebol riam!
Começam as cobranças, Lei é o
primeiro a bater para o comercial, frio, experiente, um atirador de elite dos
campos de futebol, não erraria. ERROU! acertou o poste esquerdo do goleiro e
cobriu o rosto com as mãos, como se tentasse acordar de um pesadelo. A torcida
do Corinthians enlouqueceu nas arquibancadas. O banco do comercial ficou
consternado. As cobranças se seguiram, convertidas uma a uma. Baggio quase
pegou a cobrança de Pim, a bola apenas roça a rede depois de passar por baixo
do goleiro.
O lendário Braúna vai para a última
cobrança do Comercial. O estádio inteiro prende a respiração. Se ele errar o
Corintianas será o campeão após sete finais! Frio, expressão indecifrável, se move com precisão e manda no ângulo direito do goleiro, perfeito! Vem agora Guto, capitão dos corintianos,
para depois de décadas consagrar os alvinegros, coloca a bola na marca da cal,
concentrado, deve ter passado um filme em sua cabeça, de tudo que passara pra
chegar naquele momento. A bola, o goleiro e o gol. A segundos do título, a nove
metros do título! Correu, Colocou toda a sua vontade no chute e a bola voou.
Dez centímetros, dez centímetros evitaram a bola de entrar e a torcida do
comercial veio abaixo de emoção. Guto vai às lágrimas.
Cobranças alternadas dessa vez.
Erlam Dias para o Comercial, desloca o goleiro. Ele e Braúna executaram as
melhores cobranças. Chega a vez de Play, o mundo sobre os ombros. Todos prendem
a respiração, Uilliam no centro do gol mais concentrado que nunca. Ele corre,
pega firme de direita, a bola voa com precisão para o lado direito para
encontrar as mãos ágeis de Uilliam que dão o título ao Comercial.
Essa foi a épica história de uma
partida lendária. Dá pra escutar, lá do céu, o tic tac da máquina de escrever
de Armando Oliveira a registrar a crônica dessa fantástica final, a voz
poderosa do poeta Jorge Medauar a citar em verso e prosa para Homero os feitos
desses heróicos guerreiros e Caçote rindo sem parar, feliz, porque finalmente
os deuses do futebol fizeram ressurgir o imponente gigante que é o glorioso futebol
de Água Preta!
Texto: Murilo Brito- Grato torcedor da Seleção de Uruçuca
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