Aos poucos, quem sabe ainda se refazendo do susto provocado pelos indiciamentos da Operação Acrônimos e mais recentemente pelo envio de outras duas denúncias ao Superior Tribunal de Justiça, pelo Supremo Tribunal Federal, no bojo da Lava Jato, o governador Fernando Pimentel, de Minas Gerais, vai voltando ao proscênio da política mineira e começa a se projetar para dentro e para fora do Estado. Aliás, nas comemorações do 21 de abril, Pimentel já fez esse ensaio, quando foi o orador oficial da solenidade e citou Tiradentes e Nelson Mandela, cada um a seu tempo, como exemplos de vítimas do arbítrio do Estado – como ele mesmo se considera, embora certo de que provará sua inocência.
Na semana passada, o governador de Minas voltou ao tema de certa forma abordado também em Ouro Preto, a capital simbólica do Estado, onde se fincaram os princípios basilares da liberdade e do horror ao arbítrio, atributos caros aos mineiros e mercadoria rara no país nos dias que correm, ao ponto de se ver conflitos de natureza diversos até mesmo na mais alta corte do país, como noticiam os jornais – ainda nesta semana o ministro Gilmar Mendes voltou a condenar o uso de conduções coercitivas de funcionários do BNDES por agentes da União para simples e corriqueiros depoimentos. O governador aproveitou uma reunião de prefeitos de várias regiões do Estado para dar novamente seu recado de acatamento ao voto e aos princípios fundamentais da vida democrática. Quem achou que era um recado para dentro, errou. O governador de Minas falava para o país.
"Vocês são os legítimos detentores do mais sagrado instrumento que a democracia no mundo inteiro consagrou: o voto popular. Vocês passaram, no ano passado, pelo mais sagrado teste da democracia, o teste das urnas, que é o que dá legitimidade a cada um de nós. O voto é sagrado – continuou – e tem de ser respeitado porque é ele quem dá legitimidade ao regime democrático. Não é o concurso público. O concurso público dá legalidade, mas o que dá legitimidade ao regime democrático é o voto. E quem tem mandato e foi eleito pelo voto popular tem de ser respeitado, apoiado e tratado com a dignidade que a República brasileira exige". Curiosamente essa mesma comparação foi feita pelo ex-presidente Lula, no dia dez, logo após depor ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, quando se dirigiu à multidão que o esperava nas imediações do Fórum da Justiça Federal do Paraná. É possível que Pimentel tenha se inspirado na fala de Lula para se dirigir aos prefeitos, em Belo Horizonte, ao fazer essa analogia.
Fernando Pimentel criticou duramente o que chamou de tempos difíceis, "em que o ódio e a intolerância política, alimentado também pela manipulação descarada das informações, estão nublando a vista e a mente das pessoas no Brasil". E advertiu que esse cenário é perigoso não só para os políticos, mas também para os cidadãos, "que muitas vezes são levados a erros de avaliação em função da intolerância que, infelizmente, domina o cenário político do país". O governador de Minas foi além ao afirmar que "vivemos um tempo em que acusações, mesmo mentirosas, desacompanhadas de qualquer evidência ou prova material ganham espaço nos noticiários e transformam o acusado em culpado, antes de qualquer procedimento legal, execrando-o no noticiário político sem qualquer direito de defesa. O que estamos vendo é o massacre da classe política do país e nos aproximamos rapidamente do estado de exceção, ainda que sob o manto do Estado de Direito". Por fim, criticou a política econômica do governo Temer e reafirmou que Minas Gerais não fará ajuste fiscal cortando gastos sociais, mas se firmando em projetos que estão em análise na Assembleia Legislativa. "Se Brasília não concorda, sinto muito. É o caminho que Minas Gerais escolheu e é esse que nós vamos seguir". O governador se referia à criação de fundos públicos mobiliários criados para gerar caixa e financiar o desenvolvimento do Estado, com uma arrancada avaliada em R$ 20 bilhões de reais, em que se inclui a venda da Cidade Administrativa, ou Cidade Tancredo Neves, construída no governo do senador Aécio Neves.
O pronunciamento do governador mineiro de certa forma agrada a uma grande parte dos que com ele governam e que viam até há pouco tempo o chefe do executivo estadual como se acuado ou intimidado pelo que ele chama de perseguição que vem sofrendo desde que derrotou o PSDB, em Minas, e deu a vitória no Estado à ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014, para em seguida ser indiciado pela Operação Acrônimos da Polícia Federal. Certamente animou também o governador o fato de haver superado o estremecimento das relações com o seu mais fiel aliado no PMDB, o presidente da Assembleia Legislativa, Adalcléver Lopes, já que está rompido com o seu vice, o também peemedebista Antônio Andrade. Na verdade, ao que parece, Pimentel vai partir agora para o projeto da reeleição. Amainadas as relações com Lopes e acertados entendimentos com a sua própria base no Legislativo, Pimentel tem de cuidar agora do seu projeto de reeleição, buscando agregar forças no interior do Estado, para onde dirigirá sua atenção nas próximas semanas por meio de encontros regionais com prefeitos e lideranças de um vasto território onde se concentram 75 por cento dos votos dos mineiros. Coisa, aliás, que outros prováveis pré-candidatos já vêm fazendo, como o ex-prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, que começa também em junho a percorrer o interiorzão de Minas. Pimentel, no entanto, não pode se descuidar, como avisam seus amigos mais próximos, de que o voto está no interior, mas o perigo está na capital e ao seu lado: o vice Antônio Andrade não pretende renovar o diretório estadual, do qual é presidente – para não ter que enfrentar Adalcléver Lopes – e tenta seduzir o PMDB com o discurso de que o partido não pode estar mais a reboque de outras legendas, no caso o PT e, portanto, tem de lançar o seu próprio candidato. E acena com o deputado federal Rodrigo Pacheco, parlamentar de primeiro mandato, mas que ficou em terceiro lugar na última eleição para a prefeitura de Belo Horizonte. Se o partido vai ouvir Andrade ou se vai caminhar com Adalcléver, e ao lado de Pimentel, não se sabe ainda. Mas o que os conselheiros de Pimentel recomendam é que ele parta para o embate político não apenas no plano estadual, mas também no nacional, reunindo-se com governadores e lideranças políticas alinhados com suas teses e na defesa dos valores da democracia. Ao seu estilo, mais ponderado, os últimos movimentos do governador mineiro indicam que ele começa a andar nessa direção. A fala de Ouro Preto teria sido a senha. E uma reunião que ele teve na semana passada, com doze de seus secretários mais próximos, foi o início da retomada, até por que, nesse encontro, ele deixou claro que quem não estiver disposto a sair na frente com ele, poderá pedir para sair do governo. É um outro Pimentel, confidenciou um dos que participaram da reunião.
Fonte http://www.brasil247.com
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