Passados sete meses, reli o texto. E, ratificando um
vídeo publicado aqui no Brasil 247, pude confirmar, sem ressalvas, que todas as
previsões de Dilma acerca das consequências do golpe estão a se concretizar.
Para que não reste dúvida, transcrevo abaixo o texto na
íntegra e destaco em negrito o que a ex-presidenta previa à época, comprovando
que tais presciências se concretizam nos dias de hoje.
De fato, o vice e sua camarilha nos três poderes, com o
apoio do governo norte-americano, da mídia manipuladora e produtora da
pós-verdade, do empresariado nacional de mentalidade escravagista e das elites
fascistas de parte da classe média tomaram de assalto o poder e, sem
escrúpulos, estão a destruir as bases da economia e das políticas públicas
nacionais.
Os impostores rasgam a Constituição cidadã de 1988,
emendando-a violentamente mesmo sem apoio e legitimidade; conspiram contra os
pobres, os trabalhadores e os aposentados. Desmontam o pouco do estado de
bem-estar social que construímos em cinco séculos de história e meio século de
democracia. E lançam o país no mais brutal neoliberalismo. Consuma-se, aqui, a
verdadeira história de Ali Babá e seu bando a saquearem a Nação.
Essa coalização de direita conservadora que se impõe pela
força e pela violência, que deseja fulminar com os sonhos e as esperanças de um
povo na luta por justiça e igualdade precisa ser enfrentada, nas ruas e nas
redes, em todos os espaços, públicos e privados, diuturnamente.
Dilma também previu que contra os embusteiros teríamos “a
mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode
sofrer”.
Portanto, não podemos nos esmorecer na luta contínua
contra a coalizão que usurpa o poder.
Vejamos o discurso de Dilma e suas previsões assertivas
(destacadas em negrito) em relação às consequências de um golpe comandado pelas
forças mais perversas que existem nesse país:
Ao cumprimentar o ex-Presidente Luís Inácio Lula da
Silva, cumprimento todos os senadoras e senadores, deputadas e deputados,
presidentes de partido, as lideranças dos movimentos sociais. Mulheres e homens
de meu País.
Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a
história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment
escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela interrupção do mandato
de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma
inocente e consumaram um golpe parlamentar.
Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos
que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos
aos derrotados nas últimas quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto
direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do
poder por meio de um golpe de Estado.
É o segundo golpe de estado que enfrento na vida. O
primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da
tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe
parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo
para o qual fui eleita pelo povo.
É uma inequívoca eleição indireta, em que 61 senadores
substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos. É uma fraude, contra a
qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis.
Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da
nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas a partir de
2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de
corruptos investigados.
O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático
que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e
reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as
instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo
econômico e do retrocesso social.
Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do
Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este
impeachment.
Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o
meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente
qualquer organização política progressista e democrática.
O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e
contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho
e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à
moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens
de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da
população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido.
O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é
misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da
intolerância, do preconceito, da violência.
Peço às brasileiras e aos brasileiros que me ouçam. Falo
aos mais de 54 milhões que votaram em mim em 2014. Falo aos 110 milhões que
avalizaram a eleição direta como forma de escolha dos presidentes.
Falo principalmente aos brasileiros que, durante meu
governo, superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, começaram a
receber atendimento médico, entraram na universidade e deixaram de ser
invisíveis aos olhos da Nação, passando a ter direitos que sempre lhes foram
negados.
A descrença e a mágoa que nos atingem em momentos como
esse são péssimas conselheiras. Não desistam da luta.
Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão
enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme,
incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.
Quando o Presidente Lula foi eleito pela primeira vez, em
2003, chegamos ao governo cantando juntos que ninguém devia ter medo de ser
feliz. Por mais de 13 anos, realizamos com sucesso um projeto que promoveu a
maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso País.
sta história não acaba assim. Estou certa que a
interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós
voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o
povo é soberano.
Espero que saibamos nos unir em defesa de causas comuns a
todos os progressistas, independentemente de filiação partidária ou posição
política. Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a
agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e
pelo restabelecimento pleno da democracia.
Saio da Presidência como entrei: sem ter incorrido em
qualquer ato ilícito; sem ter traído qualquer de meus compromissos; com
dignidade e carregando no peito o mesmo amor e admiração pelas brasileiras e
brasileiros e a mesma vontade de continuar lutando pelo Brasil.
Eu vivi a minha verdade. Dei o melhor de minha
capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades. Me emocionei com o sofrimento
humano, me comovi na luta contra a miséria e a fome, combati a desigualdade.
Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste
momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar
dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles.
Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de
carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras
saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, a
machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão
única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar.
Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho certeza de
que posso dizer “até daqui a pouco”.
Encerro compartilhando com vocês um belíssimo alento do
poeta russo Maiakovski:
"Não estamos alegres, é certo,
Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado
As ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las,
Rompê-las ao meio,
Cortando-as como uma quilha corta."
Fonte:http://www.brasil247.com
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